Um estudo do Hospital Geral de Massachusetts (MGH) descobriu que os déficits no sentido do cheiro ou olfato são importantes contribuintes para a falta de apetite frequentemente observada em pacientes com doença renal grave. Em seu relatório no Journal of the American Society of Nephrology, a equipe de pesquisa descreve a descoberta de anormalidades olfativas em cerca de 70 por cento dos pacientes com doença renal crônica e 90 por cento das pessoas com doença renal em estágio final, e que déficits mais significativos foram associados a fatores indicando uma má nutrição.
“A maioria dos pacientes com doença renal crônica, particularmente aqueles em estágios mais avançados que necessitam de diálise, apresentaram algum grau de perda de seu sentido do olfato, que se correlacionou com um menor estado nutricional”, diz Teodor Păunescu, PhD, da Divisão de Nefrologia do hospital, autor correspondente do estudo. “A desnutrição é uma complicação bem conhecida da doença renal crônica e do seu estágio final, de modo que identificar fatores contribuintes é importante para desenvolver terapias potenciais.”
O primeiro autor Dr. Sagar Nigwekar, também do MGH, explica: “Mais de 25 milhões de adultos nos EUA têm doença renal crônica, sendo que mais de meio milhão de pacientes necessitam de diálise. A má ingestão dietética que leva à desnutrição é comum nesses pacientes, mas atualmente não há tratamentos efetivos que abordem essas complicações. Estabelecer o que esses déficits olfativos são e como eles influenciam a nutrição do paciente é essencial para o desenvolvimento de novas intervenções preventivas ou terapêuticas”.
Os pacientes com doença renal geralmente perdem o interesse em alimentos, relatando que têm pouco sabor ou um sabor desagradável, e a desnutrição que resulta é um contribuinte significativo para o agravamento dos sintomas e risco de mortalidade. Embora vários estudos tenham relatado deficiência de habilidade olfativa em pacientes com doença renal, outros tiveram resultados mistos e nenhum deles avaliou em larga escala para caracterizar como anormalidades específicas influenciam o estado nutricional. Como resultado, mesmo que o sentido do olfato tenha uma contribuição importante para os sabores dos alimentos, a maioria dos esforços para aumentar a ingestão de alimentos em pacientes com doença renal se concentrou no sentido do gosto e na estimulação direta do apetite.
O estudo atual matriculou 161 participantes – 100 com doença renal em estágio final, todos dependentes de diálise; 36 com doença crônica ainda não no estágio final; e 25 controles saudáveis. Um teste – o teste de identificação de olfato da Universidade da Pensilvânia – determinou a habilidade dos participantes para identificar odores específicos. Outro teste analisou o nível de um aroma que era necessário para a detecção individual. Testar tanto a identificação de odor como o limiar de detecção de odor pode determinar se as anormalidades podem ser atribuídas aos neurônios olfativos nas passagens nasais ou às vias de processamento de odor no cérebro.
Com base nos testes de identificação de odor, 69% das pessoas com doença renal crônica e 92% das pessoas com a doença em estágio final tiveram uma redução significativa no seu sentido do olfato. No teste que determinou os limiares de detecção de odor, os participantes com doença renal em estágio final exigiram uma concentração quatro vezes maior de um aroma a ser detectado do que aqueles com doença crônica ou participantes de controle.
Apesar das diferenças significativas na capacidade olfativa entre os três grupos, as classificações dos próprios conceitos de olfato de todos os participantes do estudo, em média, foram de cerca de 80% na escala de 0 a 100 por cento, sugerindo que a maioria dos pacientes não estava ciente de ter problemas de olfato. Em todos os três grupos, o estado nutricional dos participantes – determinado por uma avaliação padrão da ingestão alimentar, alterações de peso e sintomas gastrointestinais, juntamente com medidas de fatores como o colesterol e a albumina, que refletem o metabolismo das proteínas – se correlacionou com suas habilidades olfativas.
Para testar um tratamento potencial para esse tipo de déficit olfativo, a equipe matriculou sete pacientes com doença renal dependente de diálise em um estudo piloto de teofilina* – um medicamento aprovado para tratar asma e enfisema e anteriormente relatado para reduzir esses déficits em pacientes sem a doença renal. Esses participantes usaram doses diárias de teofilina intranasal durante seis semanas e participaram de testes de seguimento a cada duas semanas durante o período de estudo.
Enquanto os escores de identificação de odor de dois participantes se deterioraram, para os outros cinco aumentaram em média 5%, com a maior melhora em qualquer participante superior a 10%, em comparação com os resultados no início do teste. Para três participantes, a melhora foi suficiente para movê-los de categoria, como perda de cheiro grave para moderada ou moderada para leve. “Sabemos que, na população em geral, os déficits olfativos reduzem o prazer dos alimentos e são fatores de risco para a desnutrição, pelo que o uso de novas terapêuticas para melhorar o olfato pode ser uma maneira inovadora e efetiva de prevenir e aliviar a desnutrição em pacientes com doença renal.” E Nigwekar acrescenta: “Estamos agora planejando expandir a investigação dos déficits olfativos para um grupo maior de pacientes e determinar se uma não satisfatória ingestão dietética realmente induz a associação entre deficiências olfativas e qualidade nutricional. Um estudo de longo prazo deve nos ajudar a estabelecer a sequência de eventos pelos quais os déficits olfatórios levam a mudanças no consumo de alimentos e eventual desnutrição, e os resultados preliminares encorajadores do ensaio de teofilina justificam a confirmação em um estudo maior”. Ambos os pesquisadores são professores assistentes de Medicina na Harvard Medical School.
*N.daT.: A teofilina, além da cafeína e teobromina, é um alcaloide da família das metilxantinas, um dos principais grupos constituintes de algumas variedades de chás.
Traduzido por Essentia Pharma
Fonte:http://www.nejm.org/doi/ref/10.1056/NEJMe1706095#t=article
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